30 Dias de Noite - edição comemorativa Darkside Books

Olá, humanidade.
Neste natal, um de meus presentes foi uma edição da graphic novel 30 Dias de Noite, de Steve Niles e Ben Templesmith, traduzida por Paulo Cecconi, na qual eu estava de olho há algum tempo. Comecei a leitura em janeiro, intercalada com outro(s) livro(s), e terminei nesse sábado, dia 11. Assim, achei que seria interessante registrar minhas impressões.

A edição comemorativa é de capa dura e conta com uma sobrecapa, na qual foi estampada uma das artes criadas para a HQ; já na capa, vermelho-escura e com impressos de "manchas", há um pequeno crânio de vampiro centralizado - o detalhe mínimo e elegante o torna quase um livro antigo. Achei a escolha de artes com estilos diferentes para capa e sobrecapa uma escolha inteligente, muitas vezes essas artes costumam ser redundantes em outras edições. Além disso, é possível interpretar tal escolha  como uma representação do respeito pelo mito estabelecido do vampirismo acrescido de toques contemporâneos.



Ao abrir as páginas, contudo, estranhei o papel. Todos os quadrinhos que tinha até então (e estes não são muitos), fossem da Panini Comics ou de outra editora, eram impressos em couché brilho; o exemplar que eu tinha em mãos tinha páginas mais foscas e aparentemente mais finas. Procurei no final do livro o tipo de papel, mas não encontrei essa informação, lamento. Passado o estranhamento inicial, percebi por que o papel era diferente: os quadrinhos que eu já tinha em minha coleção eram curtos, dificilmente passavam de cem páginas, enquanto a graphic novel de Niles e Templesmith era um catatau de 368 páginas. Assumi, portanto, que o uso de couché brilho encareceria o produto (que já não é barato) para o consumidor final. E sosseguei o rabo.

Falar desta graphic novel talvez seja um pouco difícil para mim, não porque a história seja complicada, mas porque os quadrinhos, diferentemente da literatura, configuram-se como um tipo de arte em que as palavras são apenas um dos elementos de produção de sentido [Um exemplo é a diferença de formato e fonte entre os balões de fala de humanos e vampiros]. Eu tenho consciência disso e consigo ver algumas conexões, entretanto não sou formada em nenhum curso que aborde artes visuais, o que cria uma lacuna nestas impressões. Tendo isto em mente, seguimos.
A narrativa ocorre em três partes ou capítulos: no primeiro somos apresentados aos personagens de Barrow e presenciamos o ataque dos vampiros, no segundo a detetive Oleuman busca revelar que o que aconteceu em sua cidade não foi um acidente e expor os vampiros e no terceiro voltamos a Barrow. A história é linear e o final é, se não previsível, coerente.

Uma coisa que eu gostaria de destacar é que o resumo do site da Darkside faz com que os vampiros do quadrinho pareçam monstros cruéis que se definem apenas por sua sede de sangue, mas não me pareceu ser este o caso. Fica claro que pretende-se resgatar a violência e a animalidade associadas aos vampiros, as quais se diluíram em algumas narrativas das últimas décadas, e esse objetivo foi de fato alcançado. Contudo, as criaturas de 30 Dias de Noite têm motivações além do sangue, como sobrevivência e vingança. Eles são, parafraseando Dane, como os humanos em todos os aspectos, mas de um modo diferente. Esse é um dos motivos que leva Oleuman a questionar sua caça aos vampiros e que se reflete no final da obra.
Ademais, como mencionei quanto à capa da HQ, ocorre uma reimaginação das histórias de vampiros, com localização e motivações que fazem mais sentido com o ano em que a história foi escrita, mas sem deixar de lado características clássicas. Como é possível inferir pelo título, esses vampiros não podem sair no sol. Eles também apresentam as mesmas preferências alimentares, a capacidade de metamorfose, e é mencionado até um comedor de insetos, uma pessoa a caminho do vampirismo, como acontece no clássico de Bram Stocker.

A arte é bastante escura, predominando os tons de cinza e preto, com acentos em vermelho e uso de cores frias quando as cenas são situadas em Barrow. Há, ainda, pinceladas visíveis e respingos de tinta, além de traços sobrepostos. Em momentos de ação, o traço torna-se ainda mais borrado e difuso. Em um fundo tão escuro, os balões brancos das falas de personagens parecem se destacar de maneira alienígena.

Creio que a escolha por esse estilo de arte, em específico, associada a certos rumos diegéticos, surge de uma tentativa de desorientar o leitor. Cabe lembrar que a definição de horror, para Noel Carrol, envolve evocar no leitor as emoções do personagem; os habitantes de Barrow se veem privados de sua rotina absolutamente normal, embora um tanto incomum, devido à chegada de criaturas que eles não compreendem e de uma violência para a qual eles não estavam preparados: suas certezas sobre o mundo encontram-se abaladas. Do mesmo modo, 30 Dias de Noite tenta abalar o leitor com a violência do seu traço e com a falta de clareza de alguns trechos, ao mesmo tempo em que constrói uma narrativa surpreendentemente otimista.


Creio que por hoje seja só. Até mais, humanos.

P.S.: não sabia quantas fotos do livro eu poderia adicionar sem ter problemas com direitos autorais, portanto coloquei apenas a foto da capa.

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